quarta-feira, 28 de março de 2007

Texto para leitura e análise crítica em aula 28/4

A redefinição do noticiário online
(Redefining the News Online – trecho do livro Digitizing the News – publicado nos
EUA, em abril de 2004)



Em primeiro lugar, em vez de ser centrado nos jornalistas, o noticiário online é cada vez mais baseado no usuário. Segundo Leon Sigal, a noticia é um processo que envolve consenso dos profissionais responsáveis pela sua publicação. Os leitores de um jornal impresso podem influir sobre o conteúdo, mas tem reduzidas possibilidades de influir sobre o consenso dos jornalistas.

Em contraste, no ambiente online, os usuários tem muito mais poder na determinação do que é ou não noticia do que num jornal. Este poder é exercido através de mensagens eletrônicas aos jornalistas.
A tendência à valorização do usuário na determinação do que é ou não noticia valorizará, na prática, o chamado jornalismo cívico ou jornalismo público, que no passado tentou aumentar o envolvimento dos cidadãos no processo de edição dos jornais.

A crescente influência do marketing e da propaganda na valorização das preferências e necessidades pessoais, também reforçou, direta e indiretamente o protagonismo crescente dos usuários na definição da agenda de noticiais.

Em segundo lugar, em vez de ser fundamentalmente um monólogo, o noticiário online favorece a transformação do processo informativo num diálogo, entre produtores e consumidores de informação. Assim, as coberturas jornalistas online tendem a ampliar o número de vozes participantes e no aumento das trocas de informações entre elas.

Isto abre a possibilidade de aumentar a contestação, através de conflitos de opinião ou multiplicidade de pontos de vista, de uma forma muito mais intensa de que na mídia convencional.
A notícia como uma conversa resulta da importância que os jornalistas online começam a dar às opiniões e preferências dos usuários. Também resulta da freqüência cada vez maior com que o público passa a publicar o autor de noticias e histórias publicadas em ambiente online, como no caso dos weblogs.

Embora os jornalistas profissionais levantam muitas duvidas sobre o caráter noticioso desta participação do público minha pesquisa mostrou que, apesar das resistências, o público é levado cada vez mais a sério pelos veículos convencionais, como fonte de informações.

Em terceiro lugar, além da ênfase da mídia convencional na informação local e nacional, o noticiário online está criando um novo tipo de noticiário, o micro local, destacando as necessidades e interesses de microcomunidades, coisa que a imprensa, radio e televisão convencionais nunca conseguiram fazer.

Outra coisa que o jornalismo online está fazendo muito melhor do que a mídia convencional é focalizar o noticiário, atendendo a interesses mais específicos, em vez do enfoque muito geral vigente até agora. O jornalismo online está ampliando o número de pessoas envolvidas na informação.

As informações sobre eventos em bairros pequenos ou até mesmo em ruas nunca conseguiam sair nos jornais, mas agora encontram espaço fácil nos sites micro-locais ou até nos weblogs de ruas.

Para concluir este livro gostaria de retomar uma à citação de um amigo (David Galloway) que disse: “No jornalismo impresso, a gente ia para a rua, vivia alguma experiência ou testemunhava algo, voltávamos para a redação e colocávamos tudo numa folha de papel. Nós não percebíamos o movimento ou ouvíamos os sons, exceto naquilo que podíamos traduzir em produtos impressos....Acho que a (Internet) está abrindo os nossos olhos e ouvidos para formas de jornalismo que nós não usávamos quando éramos um povo do papel”.

Nesta citação destacaria principalmente a mudança cultural a que foram obrigados os veículos de comunicação, especialmente os impressos, sem falar nas transformações tecnológicas, organizacionais e financeiras. O desenvolvimento do jornalismo online envolveu o surgimento de novas percepções sobre fatos e fenômenos já conhecidos, e a comunicação destas novas percepções através de formatos inovadores.
O segundo tema levantado por Gallaway é o entendimento das mudanças culturais geradas pelo jornalismo online, em relação ao jornalismo impresso. Segundo ele, “as coisas eram diferentes quando éramos um povo do papel”.

Muito se tem falado sobre a idéia de um fim do jornalismo impresso na comunicação. A minha pesquisa mostrou que os jornais tentaram reproduzir a sua forma impressa de tratar a noticia nos sites que criaram na Internet. Ao fazer isto eles acabaram criando um novo jornal, que embora tenha sua origem solidamente encravada na versão impressa, acabou se diferenciando na infraestrutura, política editorial e rotinas de produção.

Os veículos impressos sobreviverão à ampliação do ambiente online, mas paradoxalmente, esta sobrevivência permitiu o surgimento de um novo meio de comunicação bem diferente do que o que lhe deu origem. É impossível, no momento, dizer qual o desenlace deste processo em que os jornais tentaram a mesmice, mas acabaram inovando. O certo é que mais do que nunca o estudo da dinâmica do processo tem uma importância crítica.

Informações sobre o autor do do livro Digitizing the News - Pablo Boczkowski – Personal information: Pablo is Cecil and Ida Green Career Development Assistant Professor at MIT's Sloan School of Management. He studies "how the construction and use of new media technologies affect work practices, communication processes, and interaction with consumers, focusing on organizations and occupations that have traditionally been associated with print media." His book, "Digitizing the News: Innovation in Online Newspapers," has been published by MIT Press.

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